Texto originalmente publicado como Newsletter da Carpsi em www.carpsi.com.br
Porque a alternativa de empreender
Marcos da Cunha Ribeiro
Cada vez mais se ouve falar de empreendedorismo, que o brasileiro tem um espírito empreendedor e que empreender é melhor do que ser empregado de alguma empresa.
Inegavelmente existem diversos bons argumentos para sustentar cada uma das posições citadas e inegavelmente também existem outros tantos bons argumentos para contradizê-las. Mas porque então levantar esta questão?
Porque por muitos anos depois do desenvolvimento dos mercados de trabalho no Brasil a partir da 2ª metade do século passado, houve certo esquecimento e acompanhado de acomodação quanto ao processo de empreender ao invés de empregar.
Esse movimento talvez possa ter acontecido em função da disponibilidade de oportunidades, uma vez que a noção da estabilidade que o emprego apresentava frente à alternativa do emprego no setor privado crescente, ou talvez pelo processo natural de aversão aos riscos num momento em que o país apresentou uma economia inflacionária perversa, marcada pelo alto custo de capital e pela baixa disponibilidade de crédito – sempre atuante no contexto brasileiro -agravadas a partir dos anos 70 até o advento do plano real e seu posterior sucesso no controle da inflação.
Não foi por coincidência que as iniciativas de empreendimento nos últimos anos sempre foram ligadas a atividades de comércio, de preferência com baixo nível de formalidade, ou de serviços e em especial na área de consultoria.
Felizmente, a realidade do país e de sua conjuntura transformou-se fortemente a partir da década de 80 e o empreendimento ou o ato de empreender passaram a ter nova atenção da mídia, das academias e dos gurus do mercado. Pena que por conta disso não é permitido à opinião pública uma visão completa e realista desta transformação, ao contrário, firmamos mais um item do famigerado conhecimento convencional.
O recente ingresso da nova classe média ascendente, o consumo em alta e o quase pleno emprego que vivemos no Brasil nos últimos meses e que vamos ainda viver por mais alguns anos, pelo menos, certamente tem sido mais um impulso importante para a atração das atenções de muitos brasileiros para o sonho de ter seu negócio próprio.
Oferta de crédito a custo razoável para os padrões brasileiros, simplificação da burocracia e custos de abertura de empresas, seja pelo Simples (Empresa limitada regida pelo lucro presumido), ME (micro empresa) ou a mais recente inovação governamental, a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (lei 12441/2011), tem sido mais alguns dos fortes motivadores para a escolha de empreender.
Mas e o indivíduo e sua escolha? Como fazê-lo de forma adequada e satisfatória no longo prazo, como fazer do empreendimento uma carreira e um plano de vida sustentado por um negócio próprio?
A quem diga que empreender requer uma vocação e, portanto somente os vocacionados teriam melhores chances de sucesso. Mas há também quem diga que qualquer pessoa com muita vontade, muito trabalho e muito esforço será bem sucedida em seu empreendimento, portanto, há controvérsias.
Em geral as histórias de sucesso permeiam a mídia, a literatura especializada e também os famosos cases estudados nas faculdades e MBAs da vida. Infelizmente pouco se fala das histórias de insucesso, frustração, perdas econômico-financeiras ou decepções curáveis somente com muito tempo e outros custos.
Vez por outra sabemos, pelas poucas estatísticas existentes, que 80% dos novos empreendimentos fracassam antes de completar seu 2º ano de vida. Índice renitente e bastante alto e que merece uma avaliação mais profunda a respeito das raizes deste infortúnio para, a partir deste ponto poder pensar sobre a possibilidade se inclusão em grades e currículos dentro do programa de uma cadeira que trate adequadamente desta alternativa de geração de trabalho, riqueza para a economia e de auto-realização para o indivíduo.
Entendo e apoio as iniciativas das diversas faculdades de administração ou engenharia com suas áreas extracurriculares que incluem incubadoras de empresas, empresas juniores e outras iniciativas. (visite www.endeavor.org.br ou www.santanderempreendedor.com.br, por exemplo).
Ser empreendedor implica em, com ou sem vocação, ter desenvolvidas um conjunto de competências específicas que sem elas o risco e chance de insucesso são muito grandes. Este conjunto de competências pode ser ampliado conforme a visão do avaliador e do avaliado, mas existe um consenso razoável quanto a algumas que seriam essenciais, entre elas: visão estratégica e de contexto, gestão de demandas, flexibilidade, acompanhamento e controle, intensidade de trabalho, gestão da inovação e ambição (no sentido de auto motivação).
Podemos acrescentar ainda a persistência e perseverança como qualidades de perfil desejado. Se competências podem ser desenvolvidas a qualquer tempo desde que suportadas por autoconhecimento e um bom plano de autodesenvolvimento, qualquer pessoa com vontade de fato pode se desenvolver para empreendimentos.
Um fato interessante para ser considerado é que atualmente boa parte das corporações procura para seus colaboradores e líderes características de empreendedores a ponto de serem já chamados de empreendedores corporativos. De fato procuram um conjunto de características de perfil e competências para que exerçam nas corporações atividades com desempenho de empreendedores. Ou seja , comportamentos e atitudes observáveis que demonstrem claramente que gostam do que fazem, tem controle total da decisão e implementação, auto gerenciados e, portanto altamente comprometidos com os objetivos e seu trabalho. Esses empreendedores olham para a empresa como se fosse seu próprio negocio alem de apresentar proatividade, iniciativa e dedicação superior. Se, portanto saber empreender passa a ser uma competência corporativa desejada e desejável como parte da estratégia de recursos humanos, o que dizer então daquele que se aventura em uma iniciativa de empreender seu próprio negócio.
Uma possível conclusão que não pretende esgotar a discussão do tema seria que: os conhecimentos para um empreendedor podem e devem estar disponíveis nas diversas formações formais seja a mais generalista como a administração, seja nas mais especialistas como as diversas graduações técnicas da engenharia, finanças entre tantas. Porem, é imprescindível acrescentar a experiência em gestão (ou considerar o custo e risco do aprendizado pela tentativa e erro) e um desenvolvimento consciente das competências essenciais para o desempenho gerencial com sucesso, neste caso competência como conjunto de habilidades, comportamentos, praticas e conhecimentos que se possam observar nas entregas que certamente deverão existir, portanto, empreender é preciso, seja na organização corporativa , seja para desenvolver um negócio próprio. É uma alternativa de carreira que deve ser considerada; se empreendedor corporativo como forma de acelerar carreira e sucesso de realização e fundamentalmente como fator diferencial de entrega de resultado e, portanto de progresso profissional na organização; se empreendedor para negócio próprio como decisão consciente de realizar o sonho e objetivo de implementar uma empresa de sucesso e existência sustentável mas partindo da premissa de que não basta querer mas também aplicar o esforço em se desenvolver como empresário alem de executivo.
Por fim, empreendedorismo não é uma cadeira universitária ou uma matéria de faculdade. Empreendedorismo diz respeito ao conjunto enorme de conhecimentos multidisciplinares atrelados a um conjunto mínimo de competências, habilidades e comportamentos que, em sua intrincada intersecção, podem resultar no empreendimento bem sucedido em qualquer contexto e conjuntura.
Boa Sorte aos que escolherem empreendedorismo como carreira e forma de prosperar.
Marcos C. Ribeiro
Agosto de 2011