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Arquivo mensal: março 2014

CONJUNTURA E CENÁRIOS POLÍTICO-ECONÔMICOS DO BRASIL EM 2014 E A PRODUTIVIDADE

Análise do Contexto e Cenário atual e próximo futuro como embasamento para a discussão de Produtividade na constelação de valor do Marketing Industrial.

Introdução e esclarecimento:

A grande motivação, para esta análise, foi a preparação do processo de pensamento e introdução para uma nova matéria de minha autoria que será publicada no próximo número da revista de Marketing Industrial, que será de No 63  ( única revista especializada em Marketing Industrial no Brasil e talvez na América Latina !) . A edição reduziu a análise introdutória por questão de espaço, mas autorizou a publicação neste Blog.

Desde já convido a todos que leiam este post que procurem ler o artigo na Revista, (Nas melhores bancas de revistas do Brasil  a partir de 24 de março) pois será um complemento interessante na discussão da questão da Produtividade. Produtividade, que na macroeconomia,  hoje é apresentada como a maior causa ( pela sua falta e não excesso !) de baixo crescimento do PIB e aumento da inflação no Brasil para hoje e para próximos anos.

Produtividade, que na microeconomia, não mais pode ser tratada separada da Qualidade do produto ou serviço e que é o componente causal real da competitividade de custo, com ou sem ganho de escala no volume.

Produtividade que nas empresas ainda é um foco primordial ainda que mal compreendido e mal trabalhado nos processos críticos e processos de suporte, na produção e na distribuição, com ERPs de ultima geração ou com processos manuais.

 A Análise como foi feita:

Há um ano propus um Back to Basics para a Indústria brasileira resgatar alguma competitividade.

O tema parece recorrente depois do desempenho industrial em 2013 e seus primeiros passos claudicantes em 2014; mas, pelos índices de crescimento do PIB brasileiro em 2012 e 2013, e pelas projeções ainda sem muito consenso, pode-se concluir que a questão não é privilégio do setor Industrial. O Agronegócio é um dos sustentadores de crescimento positivo e também da balança comercial do país, mas aparentemente Serviços também não têm dado grandes contribuições no que diz respeito à  produtividade e crescimento.

Para uma visão histórica, cabe lembrar que o PNQ (Prêmio Nacional da Qualidade) patrocinado pela FNQ (Fundação Nacional da Qualidade) tem 22 anos, o Instituto Nacional da Qualidade e Produtividade (IBQP) tem pouco mais de 10 anos. Pouco tempo para ser incorporada a cultura de negócios e estamos o tempo todo discutindo produtividade como elemento crítico para estabilidade e crescimento de nossa economia.

A visão da qualidade nos anos 50 era específica, porem com o passar dos anos qualidade e produtividade ficaram indissociáveis. Estes dois pontos considerados como Default na administração das empresas em geral, e também nas empresas válidas, infelizmente, não têm sido claramente tratados como condição si ne qua non para competividade e construção de valor. Foi somente em 2005 que a FNQ formalizou o programa MEG, Modelo de Excelência em Gestão, que havia sido iniciado com o programa “Primeiros Passos”, em 1998.

Porque isso é importante? Porque entre 2013 e 2014 as discussões sobre produtividade da economia e a produtividade das empresas ganharam nova ênfase por consequência direta da queda do índice de crescimento da economia, desindustrialização, e também dos resultados financeiros médios das empresas no Brasil. E este tema está implícito na construção de valor nas relações entre empresas, e na geração de riqueza para toda a sociedade.

O ano de 2014 começa com grandes expectativas, na sua maioria, pessimistas, ainda que eu as considere as  mais realistas; assim taxadas como pessimistas por conta da construção do conhecimento convencional que advém da mídia, de alguns gurus e no final até da academia. Hoje, a visão otimista é reproduzida por força de multiplicação da comunicação oficial e governamental, e a realista está nas matérias assinadas por articulistas e comentaristas que assumem a opinião e não deixam sequelas na relação da mídia com os promotores das histórias oficiais.

A crise dos emergentes, que se repete nas matérias de periódicos, é também uma forma de não assumir responsabilidades seja de quem definiu as políticas econômicas, ou seja, de quem vem postergando decisões empresariais de busca de produtividade real contando com benesses de decisões de governo. Ambas as posições colocam responsabilidades exógenas ao seu ambiente e área de responsabilidade.

A inflação crescente no Brasil, segundo os maiores especialistas, advém de excessos de políticas em favor de consumo, sem o devido suporte de ações fundamentais de investimentos e de decisões de reformas pendentes críticas. O resumo da argumentação é que esgotamos os ganhos de produtividade que foram realizadas nas últimas reformas que o governo promoveu entre 1994 e 2004. São 10 anos de usufruto sem novas ações de geração de maior produtividade na economia do país.

Em paralelo, se analisarmos os resultados publicados pela FNQ, que avalia empresas brasileiras de 2000 a 2012, encontraremos em seus resultados médios o que segue:

– A amostra considerada foi de 27000 empresas, aproximadamente, sendo aproximadamente 1/3 de indústria, 1/3 de comércio e 1/3 de serviços.

-Crescimento do faturamento líquido, descontada a inflação foi de 96 % em 12 anos.

– O setor de serviços, após melhoria de resultado EBITDA (LAJIDA) entre 2005 e 2009, voltou aos patamares de 2001, com resultado médio de 17% do Faturamento Líquida.

– Na Indústria a curva foi semelhante, ou seja, com melhorias expressivas nos anos de 2005 a 2008, queda forte em 2009, resultado de “marolas” da crise mundial, e entre 2010 e 2011 recupera patamares anteriores, mas já em 2012 o EBITDA retorna aos 12 % do início do século.

– No comércio, resulta o oposto dos demais, com crescimento contínuo de 2000 em diante praticamente dobrando o EBITDA e atingindo em 2012 o índice de 5,2%, o que para comércio é algo significativo. Houve, de fato, um aproveitamento razoável do crescimento do crédito e incentivos ao consumo que promoveram o crescimento do PIB brasileiro de 4% a 7% por alguns anos).

A nova matriz econômica do atual governo federal foi introduzida às vésperas do ano de 2010, mas foi recrudescida a partir de 2010 quando a meta da inflação foi negligenciada por um maior foco no limite superior da banda, e excesso de intervenções de governo, seja em preços de mercado, seja na distribuição discricionária de reduções de impostos setorialmente, seja no excesso de crédito e de moeda na economia. (Carteira da CEF tem expandido em 40% ao ano e do BNDES em 20%%!!)

Esperar grandes ajustes no ano de eleições é um pouco ingênuo, mas os primeiros ajustes na economia ainda em 2014 e mais fortemente em 2015 são praticamente certos. Ajustes apenas vão deixar claras as perdas causadas pela adoção da nova matriz econômicas.

Nas empresas não deveria haver esperas e demoras em ajustes no sentido da produtividade e competitividade uma vez que nelas não existem as mesmas componentes políticas que existem no ambiente macro econômico. Na microeconomia a liberdade de decisão e desenho de estratégias é mais livre dentro do âmbito da organização, seu modelo de gestão e seus propósitos nos negócios.

John Mills empresário Britânico do século XIX, já declarava: “O pânico não destrói capital; ele meramente revela a extensão em que foi previamente destruído pelo uso em atividades irremediavelmente improdutivas.”

Ainda no mesmo trabalho da FNQ vemos que nos últimos 12 anos os investimentos como percentual do faturamento líquido entre indústria e serviços variou em entre 6% e 8% para indústria e entre 10% e 12 % em serviços. Como o faturamento líquido entre os dois é de dois para um a favor da indústria, vemos que nominalmente o investimento na indústria tem valor pouco superior. Mas, se compararmos com produtividade, nenhum dos  setores demonstrou os ganhos que deveriam advir destes investimentos em favor de redução de custos ou produtividade.

No Brasil, em 2010 (IBGE), tínhamos quase 300 mil empresas no setor industrial, ativas, e quase 900 mil no setor de serviços.

Somente 800 empresas, aproximadamente, estão se beneficiando da Lei do Bem com incentivos sobre IRPJ (imposto de renda Pessoa Jurídica) com efeitos no caixa para atividades de inovação e desenvolvimento de produtos e processos ou novas tecnologias. Competitividade, construção de valor e dependem de inovação tanto quanto a produtividade.

Vale observar que são poucas as empresas afiliadas ao FNQ, pouco mais de 100. Contando com a entrada das PMEs (Pequenas e Médias Empresas) via SEBRAE (modelo de auto avaliação do MEG), temos pouco mais como 80 mil PMEs em busca de melhoria de seus modelos de gestão.

Em artigo recente do Professor Y. Nakano (FGV), no Jornal O Valor, dentre o que chamou de “jabuticabas” no atual modelo adotado na economia brasileira, e que exigem reformas profundas e rápidas, saliento: desindustrialização precoce com alocações de recursos privilegiando o setor de “non-Tradeables”; carga tributária fora do padrão internacional; baixa taxa de investimento produtivo; estímulo para que os jovens talentos sejam atraídos não pela atividade produtiva, mas para atividades que apropriam aquilo que é produzido; entre outras. Consequentemente vemos as atuais ações sobre taxas de juros e inflação que podem nos colocar como ponto fora da curva, comparativamente a outros países emergentes,

Por fim, na leitura do contexto, quero enfatizar posições recentes do Professor David Kupfer (UFRJ) que é estudioso do tema Produtividade na Indústria e Competitividade. Em recente artigo de opinião no jornal O Valor ele salienta: “No Brasil, a rigidez estrutural é uma das principais causas da lenta evolução da produtividade que vem acompanhando a indústria nacional há tantos anos. Aqui esta rigidez estrutural manifesta-se como um fenômeno no qual o setor industrial reage às pressões de competitividade com investimentos de modernização, mas não em expansão de capacidade produtiva, diversificação das linhas de produto ou inovações de produtos ou processos, que tendem a ser muito mais efetivos.”.

Diz ainda: “A tese sustentada por boas razões empíricas é de que os dois fatores da dinâmica da produtividade – Destruição criadora (entrada de novas empresas inovadoras na economia) e retornos crescentes (escala ou aprendizado tecnológico e organizacional), mais ligados à eficiência técnica –  são mais relevantes para países emergentes.”.

Dica Final :

Aqui encerrei a análise introdutória, que segue em breve na matéria da revista,fica agora como convite a curiosidade do leitor para ver o seguimento da análise conceituando produtividade e depois analisando da constelação de Valor do Marketing Industrial, em uma Empresa Válida, a questão dos Talentos realizados e a questão da Evolução Deliberada.

Convido também que conheçam e visitem o site www.emkti.com.br  e www.imi.org.br

 

Recomendo também os livros :

Empresas Validas de Nelio Arantes

Foco do Cliente de José Carlos Teixeira Moreira.

Bom Proveito

 

Marcos C Ribeiro

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Petrobrás e o Pré-sal !

Continuo muito intrigado e até meio indignado com o que pode ser a maior falácia do Brasil das ultimas décadas.

Li cuidadosamente, em O Valor de 6 de março de 2014 , matéria paga da Petrobrás com o título : “Resultado Petrobrás 2013 e Novo recorde do Pré-sal : 412 mil barris de Petróleo por dia . Planejamento estratégico 2030 e Plano de Negócios e gestão 2014-2018”

Pois bem, acho que mesmo lendo mais de uma vez não entendi o conteúdo quantitativo e por conta deste entendo que o conteúdo qualitativo ficou totalmente prejudicado.

Vejamos:

  1. O pré-sal foi descoberto e anunciado com pompa e circunstância e mais uns R$ 220 Bi do BNDES entre 2007 e 2008 no final do governo Lula.
  2. A matéria aponta que temos 21 poços de pré-sal de alta produtividade. E indica que estes poços fazem parte do sucesso de R$ 23,6 Bi de lucros apurados em 2013 ( e não a venda de ativos que consta do relatório anual e monta R$ 23,4 Bi e também por coincidência em 21 operações estruturantes !). Oras, ao que se sabe não existe ainda tecnologia para produção em escala do verdadeiro pré-sal e este petróleo ( que existe em outras partes do mundo ) ainda não se tornou economicamente viável. E cada poço dos 21 na média produz 20 mbd.
  3. A produção do ano de 2013 média foi de 2539 mil  bpd , logo o pré-sal já é responsável por 0,016  % do total da produção da Petrobrás em menos de 7 anos do seu anuncio ? Mas recentemente ouvimos que era 16%%? Mas, ainda conforme a matéria, se a produção cresceu em 11 % desde 2006 podemos entender que em 2006 nossa produção na média era de 2259 mil mbd e, portanto o Brasil já deveria estar produzindo pelo menos 132 mbd de pré-sal em 2006? A conta não fecha, ou o petróleo da plataforma marítima tradicional perdeu produção nos últimos 7 anos.
  4. Reafirma a Petrobrás que sua produção irá crescer, em 2014, 7,5 % ou algo como 190 mbd  e para tal termos 9 nova plataformas que acrescentarão 1 mbd de produção . Devemos entender então que as 9 plataformas entrarão em operação na média entre julho e agosto e só produzirão meio ano. Se 9 plataformas acrescentam 1 mbd de produção , cada plataforma deve produzir 110 mbd  ou 5 vezes mais do que a média dos 20 poços que fazem nosso pré-sal um sucesso ?
  5. As novas plataformas de produção recém-inauguradas ou a inaugurar levam os números P55, P58, P62 e P63 e são todas encomendas de 2008 a 2009 e, portanto para petróleo de águas profundas, mas ainda não para o pré-sal.
  6. A base estratégica é de chegar a produção de 4000 mil mbd, ou 4 milhões de barris por dia. Isso requer crescer mais 46 sobre o projetado para 2014.  Ou aproximadamente mais 12 plataformas tão produtivas quando as novas de 2014 ou talvez mais 60 poços do Pré-sal.
  7. Investimentos para tudo isso , prometem , serão gerados da própria geração de caixa da Petrobrás, e montam para o PNG 2014-2018 até US$ 220 Bilhões.

 

Com tanta projeção, algo confusa para nós leigos em relatórios financeiros de resultados anuais, e muito mais leigos em petróleo, só posso concluir que fiz bem em vender as ações da Petrobrás, ainda em 2010, ações que comecei a investir, por acreditar, em 1985 como jovem recém-formado em economia e membro de um clube de investimento de aprendizado.

Outra conclusão é que se eu pudesse acreditar que os números acima fazem sentido e as projeções sejam realistas, ao preço atual na Bovespa eu deveria voltar a comprar ações da Petrobrás.

Outra conclusão é que os resultados prejudicados por políticas equivocadas de preço e distribuição de gasolina e outros derivados, como ação de contenção de inflação, não aparecem nas explicações públicas do lucro frustrante da outrora gigante do orgulho nacional.

Outra conclusão é que em adição ao que já foi emprestado para a Petrobrás até 2012 pelo BNDES depois dos aportes do tesouro, ainda restam mais US$ 220 bilhões. Alem destes devem existir investimentos de parceiros em até outros US$ 63 Bilhões.

Ultima promessa a ser cumprida e cobrada é de que em 2018 a produção do pré-sal representará 52% da produção de Petróleo total da Petrobrás.

Parece-me que não existem mais limites para as falácias e para o embuste aos investidores incautos.

Não, eu não voltarei a comprar ações da Petrobrás enquanto eu não entender muito bem os números que não fecham.

Se alguém souber me explicar os números acima expostos e me comprovar que existe sim tecnologia para produção econômica do verdadeiro pré-sal, sejam dos 412 mbd de hoje sejam os 2080 mil mbd prometidos para 2018, por favor, entre em contato que ficarei imensamente grato pelos esclarecimentos que espero sinceramente existam.

Aos portadores de ações da Petrobrás, meus melhores augúrios para que as perdas fiquem por onde estão.

Até que isso ocorra permaneço intrigado e indignado.

Boa Sorte Brasil!

 

Marcos C Ribeiro

 
 

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Como a visão superficial pode comprometer os projetos e o estratégico !

Compartilhando um pensamento rápido a partir da experiência de discutir um projeto em parceria com o amigo Celso Miori :

Discutindo , com um amigo e parceiro, um pouco de estratégia e planos de negócios, que eu ainda prefiro chamar de Business Plan enquanto outros ( hoje já sei que por influência do PMI e PM Book ) preferem o Business Case , descobri que o Esquimó consegue distinguir até 80 tipos diferentes de gelo . Isto o faz sobreviver e desenvolver sua sociedade e seus negócios nas geleiras do Ártico e cercanias , incluindo Alaska e Groelândia . Se deram melhor do que os visitantes Vikings de alguns séculos atrás.

Ocorre que na maior parte dos planos de negócios que temos visto a visão superficial é ainda a preferida . Falhas de aprofundamento de análises , segmentações e regionalidades transformam os planos em planos de alto risco de fracasso , enquanto payback , retorno e timing to Market. No paralelo é como se fossemos planejar um negócio no Alaska para concorrer com esquimós e só vemos um único tipo de gelo e ainda ficamos satisfeitos com isso .

Pense a respeito !!!

PS: Para mim Business Plan é o termo mais correto pois Business Case foi um processo didático de estudos que Harvard desenvolveu para a partir de casos reais ajudar os alunos de MBA e outros níveis a desenvolver o diagnóstico e análises de causas e efeitos , seja para o sucesso ou para o fracasso. Vou detalhar em breve em outro post.

Abraços Marcos Ribeiro

 
2 Comentários

Publicado por em 08/03/2014 em Administração, Contexto

 

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