“Por isso não fiquem preocupados com o dia de amanhã , pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias preocupações.” Mateus 6,34
O texto de Mateus é encontra seu paralelo em Lucas com algumas alterações e, em especial, este versículo, muito repetido como um consolo para todo o cristão, não aparece em Lucas. Seria uma mensagem para os judeus mais do que para os gentios? Acredito que não. A mensagem de fundo e principal é a prioridade das coisas de Deus e todas as outras coisas serão acrescentadas. É a prioridade para as coisas do porvir. De um futuro intangível, mas que a Fé suporta e sustenta.
No texto, as preocupações com as bases da pirâmide de Maslow são evidentes. Preocupação com ter o de comer ou o de vestir. Pressupõe que mesmo na época de Cristo o morar era menos problemático do que ter o de comer e vestir. Bem que o milagre foi de multiplicar os pães e os peixes e não criar um Nossa Casa, Nossa Vida, por exemplo.
Mas o ponto da discussão é exatamente: como não se preocupar com o futuro e com as coisas que teremos pela frente? Ainda mais na época de desejar aos amigos um Feliz Ano Novo, pleno de realizações e muito sucesso, claro que com saúde e sempre sob as bênçãos de Deus!?
Uma frase de Olavo Bilac me chamou a atenção na semana passada:
“O presente não existe. A vida é o passado e o futuro; vivemos de lembranças e de ambições, entre a saudade e a esperança.”
Em resposta a uma conversa de web, recebo outra tão provocante quanto essa e, dessa vez, de Frank Lloyd Wright (Arquiteto famoso nos Estados Unidos):
“O presente é a sombra que se move separando o Ontem do Amanhã. Nele repousa a Esperança.”
Mas daí, surge um texto de 2002 que minha mãe escreveu e guardou para compartilhar exatamente agora, hoje, neste momento (ou foi no minuto que já passou? — ou já seria saudade e lembrança?):
SER
Ignez Pinto Dias Ribeiro
Nesta imensurável fração da eternidade
que é o agora,
estou deixando de ser, para me sentir sendo,
entre o eu fui e o eu serei.
Se tal não fosse, como explicar,
o que já foi e o que será?
É pura energia, ou é a inércia,
que me leva através do ser agora,
neste exato momento em que sou, e
deixo de ser, pelo simples fato de que já era?
E por que assim não seria
se, afinal, a vida é uma sucessão
de momentos que já foram,
são e serão,
eternos nos frágeis agora,
enquanto duram?
Imediatamente voltei para a reflexão sobre o tempo e a percepção humana, presa ao sistema solar e aos 60 segundos de cada minuto até os 365 dias de cada ano, e que estamos prestes a ver passar o de 2011!
Para Deus mil anos são como um dia e um dia como mil anos?! Veja em Salmo 90,4 ou 2Pedro 3,8.
A perspectiva do tempo depois da relatividade de Einstein, e mais ainda depois da Física Quântica, me parece desafiar-nos para dois pontos muito importantes. Primeiro, evitando a perspectiva de tempo, no tempo de Deus para nossas necessidades, desejos, sonhos, devemos manter nossas vidas e perspectivas abertas à ação do seu Espírito em nossas vidas a fim de que nossas realizações e cada passo dado reflitam que nossa vontade está em sintonia com a vontade de nosso Pai.
Segundo, devemos entender que a mensagem de Cristo priorizou as coisas de Deus, coisas do espírito, coisas da vida plena e que não significa que devemos imaginar que as coisas acontecerão por acaso ou por providência divina a despeito de nossa omissão em sermos os protagonistas de nossas vidas, anseios e desejos humanos e terrenos. Não perca a Fé na Vida eterna mas Ponha o pé no chão.
A palavra esperança sempre teve uma conotação na tradição Cristã de esperar. Mas, na verdade, a esperança não deve ser um substantivo inerte e que nos coloque sempre na espera de que algo aconteça por acaso. Acaso este que, quando dá certo, entendemos imediatamente como providência. A palavra esperança evoca ação, a atitude de esperar algo, fazendo acontecer! Esperançar seria o verbo e não esperar, conforme ouvi uma vez do amigo Arthur Hipólito de Moura.
O Apóstolo Paulo planejava cuidadosamente suas viagens. Trabalhava para obter seu sustento e não depender de doações de seus novos seguidores recém convertidos ao Cristianismo. Por outro lado, de suas viagens sempre trouxe doações e dízimos das Igrejas recém inauguradas para ajudar no sustento da sofrida Igreja de Jerusalém, esta sim uma providência que tinha como protagonistas pessoas com iniciativa, em sintonia e alinhados com os planos de Deus para a sua igreja e para os seus.
Como ficamos no impasse de se devemos pensar — ou não! — no dia de amanhã, quando estamos no momento ritualístico, quase universal, de refletir sobre o que fomos e fizemos em 2011, e planejar, rever objetivos e nos prometer novas atitudes para o ano de 2012?
Bilac nos fala de nos movermos para a frente com ambições e esperanças.
Frank Lloyd nos lembra que a esperança tem valor no agora, no presente, pois no futuro ela se confirmou ou se dissipou para ser renovada em nova esperança de um presente que será!
Ignez propõe que o agora é uma fração da eternidade que não se pode medir. O futuro é parte da eternidade que não se pode antever, mas viver cada fração para chegar lá. Pois daí vem a questão sobre ser energia ou inércia. Pois que seja energia e não inércia.
Pensei, então, que uma mesma idéia reúne os diversos pensamentos listados aqui, e que exprimem a preocupação do agora ser pouco e insuficiente!
Este pouco, pois efêmero, no tempo curto de uma fração de tempo, vai afetar o que será, e mesmo o que será no agora seguinte será uma fração de tempo para pensar e fazer. O processo contínuo de fazer alguma coisa sempre, na direção desse futuro é que pode ser uma alternativa. Alternativa que será se se mantiver a coerência entre contexto, seu entendimento, decisão e ação!!
Portanto, concluo que é preciso transformar a esperança em ação, tomar a decisão e agir para construir o futuro que desejamos, suportados pelo cuidado de Deus para conosco como promessa de cumprimento eterno, e fazer do agora o ponto de partida para o novo sempre!
Feliz Ano Novo!!
Marcos da Cunha Ribeiro
Agradeço a revisão do Editor e Pastor Marcelo Smargiasse !
Dalbi
04/01/2012 at 20:52
Marcão, é uma honra poder beber desta fonte. Vc é sábio com as palavras, e brincando com elas, sintetiza o que muitas vezes nem sabíamos que existia…. Feliz 2012 para vc e todos os seus meu amigo !
Marcos C. Ribeiro
06/01/2012 at 15:33
Muito obrigado !