Comecei este artigo há uns 15 dias e coincidentemente ao estar revendo e finalizando o mesmo, eis que me deparo com preocupações semelhantes em vários pontos de nossa sociedade.
Em inglês uma posição muito forte para qualquer formação de cultura, gerenciamento de pessoas pelo exemplo, entre outros me remete a frase “Walk the talk !”
No nosso Brasil tropical sempre usamos ditados e provérbios, digamos enviesados. Certamente este viés é forte e preponderante em formar nossa cultura como sociedade e, portanto em nossas instituições , seja de governo de nação , estado ou município, mas certamente no âmbito de núcleos sociais como comunidades de toda natureza , inclusive as religiosas , eclesiásticas ! “ Faça o que eu falo mas não faça o que eu faço !” Lembram ?
Sempre me lembro nestas horas de importantes ensinamentos de nossa amiga Ethel B. Medeiros
Quando dizia que consistência é a coerência prolongada! Oras o que é coerência senão ações que comprovem e confirmem afirmações e posições tomadas? Consistência é Walk the Talk!!!
Se falamos de Gerenciamento pelo Exemplo , estamos falando do “ Walk the talk “!
Pois bem, não bastasse isso encontro em recente artigo de Alberto Carlos Almeida ( Jornal O Valor ) uma colocação que me provocou , digamos , uma indignação com o status quo! (a discussão era da situação política do Brasil e fazia uma comparação entre condições e posição de Nixon nos anos 70 nos USA e Dilma nos anos 20XX no Brasil! ) : “Credibilidade, assim como confiança, é um ativo que cresce à medida que é utilizado!” E diz ainda , em contexto de discussão política: “ Como Nixon nos ensina, credibilidade não usada é credibilidade perdida !”
Diz o texto de Alberto Carlos Almeida:
“Na realidade o problema começa quando a população não entende os porquês da dificuldade ( dificuldades do ano 2015 !) , e acima de tudo , quando não vê o governo se empenhando para que as coisas mudem para melhor .” e em seguida coloca o exemplo do pai que ficou desempregado e pede para a família reduzir gastos e temporariamente corta o curso de inglês dos filhos , mas que vai a luta , faz o Curriculum e diariamente mostra o empenho em buscar nova oportunidade de trabalho . Vai conseguir, mas o exemplo dado foi coerente com a solicitação de cortes de gastos e até investimentos da família. Todos vão apoiá-lo e dar-lhe suporte.
Para complicar um pouco mais nossas elaborações lembro que relacionamento é algo que acontece quando existe Comunicação e Confiança! Confiança é derivada direta de credibilidade. Portanto relacionamento também é resultado da combinação positiva de comunicação e credibilidade. Este tema foi um trabalho de Jean Bartoli com ingredientes de Anna Arendt e que no final apela a possibilidade do perdão para o resgate do relacionamento quando confiança ( e credibilidade ) e comunicação falham por nossas fragilidades humanas.
O que acontece hoje no Brasil é isso tudo que acabo de dizer acima. Mas o foco desta reflexão não é só para o Brasil que sempre ocupa posição preponderante em nossas preocupações , como se o Brasil fosse algo que , além e fora de nossa controle pessoal , interfere e influencia definitivamente nossas vidas ! (e em parte é isso mesmo que acontece!).
Mas veja por outro lado, desde os anos 80 passei a observar e verificar que nossa economia formal e privada, nossa sociedade enquanto não pasteurizada e controlada por alguma força ideológica de qualquer vertente, sempre foi mais forte, superou e sobreviveu a todos os descasos e desmandos dos contextos vigentes. Desde a proclamação da república, mas de forma consistente, crescente e permanente cada vez mais firme, na passagem da ditadura Vargas, governos claudicantes, ditadura Militar e agora a pseudo-ditadura de esquerda, quase bolivariana que vivemos e nela imergimos.
Para fechar a reflexão meu desafio é de justamente colocar neste contexto amargo e temporariamente depressivo (até na economia!) e colocar em questão: Onde está a credibilidade de nossos líderes empresariais? Onde está o walk the talk destes líderes de empresas que comandam a economia real, que é a única que pode gerar riqueza para ser dividida na sociedade? Onde estão os líderes empresariais que se encastelam em associações e grupos, mas que nos momentos mais críticos ou se omitem ou esperam benesses de governos em decisões questionáveis de desonerações protegidas?
Em excelente artigo recente, Luiz Bersou coloca a necessidade de um pacto social para enfrentamento da crise atual por que passamos tanto política, quanto econômica.
Assim colocou Luiz Bersou na conclusão de seu artigo:
“Questão fundamental que não está sendo percebida. Momentos de crise são também momentos de grandes ganhos ou perdas em credibilidade. Credibilidade é a mola de mobilização social. Fala-se em diálogos. Estão soltos por aí.
Diálogos soltos não levam a nada. A base para a capacidade de mobilização precisa ser o Pacto Social que traga para os líderes a condição de construir em conjunto.
Nesse momento em que o governo se mobiliza para salvar a si próprio, não quer cortar na própria carne, está abrindo mão de Pactos Sociais que não o interessam. Precisamos então de líderes empresariais e homens públicos que exijam a elaboração de Pactos Sociais que interessam principalmente à nação e que vão acabar salvando o governo que sobrar.”
Pois bem, lendo e relendo jornais e revistas recentes, consultando colegas que trabalham em Associações de classe empresarial vejo com preocupação que nosso empresariado em geral não só está na defensiva em relação a investimentos como também, como quase sempre nos últimos 30 anos, em posição não de protagonistas de propostas de Pactos Sociais como acima, de fazer acontecer como costumam cobrar de seus gerentes e diretores na empresa. Ao invés disso, estão como sempre assistindo as coisas acontecerem e esperando que aconteçam como eles desejam . Poucos são exceção, e até estes tem estado em estado de observação.
Acredito que o problema do Brasil, das empresas, das associações e comunidades é anacrônico e sem solução de curto prazo. Precisamos de bons líderes e eles estão em falta!!
Marcos C Ribeiro
leonardo
23/03/2015 at 19:11
Bom!
Carlos Zaffani
24/03/2015 at 11:29
Muito bom Marcos!
Permita-me acrescentar uma palavra a mais no contexto de sua abordagem: cooperação!
Creio que a credibilidade e a confiança se conquistam, mas é com a cooperação entre todas as partes envolvidas que torna-se possível alcançar a união necessária e desejada!
Grande abraço,
Zaffani
Christian Reis
24/03/2015 at 11:45
Liderança fraca e/ou omissa em tempos de bonança leva ao desperdício de oportunidades e atuação oportunista de curto prazo. Em tempos de crise, em especial as prolongadas como a atual, vê-se o lamento protecionista e a apatia. Temos novamente condições de rever nossa posição estratégica, repensar o modelo, o mercado e partir para reverter o pessimismo com soluções que fazem a diferença. Let´s Walk the Talk!