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A NOVA LEI FLORESTAL E A SUSTENTABILIDADE DO AGRONEGÓCIO

 INTRODUÇÃO

Antes de tentar detalhar um pouco a origem das controvérsias em curso, cabe salientar que o Governo, desde os anos 2003, vem usando de um expediente inteligente e perspicaz, pouco comentado nos meios econômicos, políticos, ou na mídia. Ao invés de buscar maiores polêmicas como o uso eventual do boné vermelho em favor de um movimento questionável e totalitarista, bastou uma ação coordenada entre órgãos de ministérios, sindicatos e algumas instâncias do Ministério Público para, ao invés de discutir, cobrar o cumprimento de leis que viviam em ostracismo não aleatório, mas controlado. Vejamos, como exemplos paralelos ao código florestal, a exigência do cumprimento da cota de deficientes nas empresas na dose de 5% do efetivo contratado, ou a forte fiscalização sobre serviços terceirizados, o cooperativismo na indústria ou outros esforços que geraram o crescimento substancial do número de empregos “gerados” com carteira assinada, nos últimos 8 anos.

A Lei Florestal do Brasil, seu primeiro código florestal, foi  instituída em 1934, no governo Getúlio Vargas, sofreu revisão durante o governo militar e desde então a norma básica ainda é a Lei 4771 de 16 de setembro de 1965, que sofreu inúmeras alterações por leis complementares de 1989 e 2006 ou por Medida Provisória, em  especial durante  2001.

Hoje, todo o debate acerca do Código Florestal diz respeito às figuras da Reserva Legal e das Áreas de Preservação Permanente, segundo Ciro Siqueira em seus comentários sobre o tema.

Conforme disse o professor José Eli da Veiga, em setembro de 2011, “no momento atual temos, depois de votado e aprovado na Câmara Federal o Projeto de Lei da Câmara nº 30, (novo Código Florestal) um imenso fardo para os senadores”.  José Eli também via o centro das discussões nas áreas de preservação permanente e nas reservas legais, mas com foco nas tendências da produção agrícola: com crescentes produtividade e qualidade, ancoradas em tecnologia, conhecimento e informações, transformadas em competitividade real. No caso, o contraponto é o confronto com a  sobrevivência de uma pecuária de extensão, arcaica e promotora dos últimos grandes desmatamentos no Brasil.

Certamente aqui cabe considerar a crescente tecnologia de produção de gado confinado ou com otimização do uso de áreas de pasto,  que poderiam gerar reservas de expansão da área plantada para produção de alimentos, sem comprometer mais desmatamentos com expansão de novas fronteiras agrícolas.

Existe, portanto, um embate entre duas fortes vertentes do agronegócio brasileiro e ambos muito fortemente inseridos nos planos de um Brasil Maior (programa de governo atual) , com atentos suportes de BNDES , e outros meios de fomento para que o agronegócio passe a ocupar posição de importância relativa que nunca ocupou na história econômica do Brasil ( talvez exceto no ciclo do café e antes da industrialização brasileira acontecer de fato).

Aparentemente a situação atual teria sido provocada pelo decreto n° 6514/08, do Poder Executivo, por iniciativa do Ministério do Meio Ambiente, que fez agitar leis adormecidas e trouxe à tona, de um lado, sua falta de efetividade, e de outro acordou os proprietários agrícolas para a percepção de que as leis e suas emendas, ocorridas ao longo do tempo e de há muito vigentes, não seriam viáveis do ponto de vista da sobrevivência econômica e financeira do agronegócio nos moldes atuais. Nessa hipótese, a produção de riqueza no agronegócio e seus colaterais de geração de emprego, de equilíbrio da balança comercial do Brasil e até da segurança alimentar, não só de brasileiros como de parcelas importantes da população global, estariam em grande risco.

Esta argumentação se insere nas discussões globais sejam relativas ao meio ambiente ( que monopoliza um pouco o espaço de discussão), da emergência de classes médias e melhor distribuição de riqueza, ou da questão da fome ainda presente e insistente para muitos milhões de seres humanos.

Como argumentos globais, antes da segurança alimentar já veio a sustentabilidade.

Até 10 atrás  a viabilidade de um empreendimento, mesmo no próprio agronegócio, era dependente de lucro e rentabilidade, quase que exclusivamente. No caso da produção agropecuária no Brasil, desde há muito sem subsídios diretos, mas com linhas de crédito aperfeiçoadas ao longo dos últimos 30 anos (versus os altos subsídios da Europa ou dos EUA) pode-se perceber que os conceitos evoluiram, que houve mudança  e agora, ao invés de um único suporte passou-se a considerar 3 suportes, ou 3 pernas de um tripé, (gosto muito da figura do tripé pois reflete a instabilidade total na falta de um dos pés). Isto ocorreu a partir do final dos anos 90 quando o conceito de sustentável ganhou o aporte conceitual da já famosa “triple bottom line”, assim  cunhada por John Elkington.

Ocorre que de fato a sustentabilidade apoiada por três suportes – as pessoas (social) o meio ambiente e os  recursos financeiros (economia, resultados) permite uma melhor compreensão do papel da industria, ou do agronegócio,  desde há muitas décadas. Os já famosos três pês de “People, Planet and Profits”.

Este conceito, muito bem discutido em nossos Fóruns de Marketing Industrial desde 2002, pelo menos ganhou novos ingredientes no Fórum recém terminado de setembro de 2011. A figura de uma pirâmide com base triangular (o tripé de Elkington) com o vértice superior representado não pelo social, mas pelo Indivíduo, o ser humano cidadão, consciente e interferente nos sistemas; e com a feliz idéia de que no meio circunscrito pelos lados da pirâmide existe o ambiente onde o conjunto de agentes se comunica e troca informações construindo confiança e respeito mútuos, o que sustenta os relacionamentos fundamentais para o equilíbrio e sustentabilidade do macro sistema.

 A ATUAL POLÉMICA NO BRASIL

Em recente artigo o Prof. Delfim Neto afirma com segurança e com o peso de sua experiência de que (fora de ambientes acadêmicos) não se pode mais dissociar as questões econômicas das políticas e vice e versa. Eu sugiro ampliar esta máxima também para as questões sociais.

O viés ideológico de alas políticas é incontestável e encontra guarita em vários dos órgãos e setores públicos que participam do movimento em defesa de suas prioridades. A questão ambiental vem ganhando prioridade absoluta e isto, no caso do tripé da sustentabilidade,  gera um certo desequilíbrio. É Cult!

O viés econômico vem de alas representantes da economia privada que carregam os riscos do agronegócio do país, e que mal se recuperaram de crise profunda de 2004/5, um soluço mundial em 2009 e felizmente uma recuperação razoável e alvissareira a partir de 2010. Sofrem da mesma discriminação que ainda se dá ao lucro.

O suporte extra desta vertente é a constatação de que o consumo de alimentos no mundo emergente, a despeito da estagnação das grandes nações ocidentais do hemisfério norte, e ainda a perspectiva de um continuo crescimento e emergência de suas classes médias faz crer que nos próximos 10 anos o agronegócio tem todas as condições de um crescimento estável e sustentável na demanda, na oferta, nos preços e na expansão da produção.

A maior produtividade, o crescimento relativo de áreas plantadas e uma melhor rentabilidade certamente farão dos empreendedores – libertos das dívidas de muitos anos – grandes investidores em insumos, equipamentos e treinamento de pessoas, dando margem a uma geração de empregos diferenciados como nunca houve na história deste contexto.

Em parte estas perspectivas explicam a enorme quantidade de investimentos estrangeiros no setor também explicados pelo crescimento mundial da demanda de alimentos, pela dificuldade de recuperação de estoques mundiais e pela atratividade recente de investidores do mercado financeiro, com menores opções depois da crise.

E o viés social, onde está? Dissimulado no cenário político porque é argumento obrigatório no discurso.

Os dois setores mais agressivos, as minorias: de um lado os que usufruíram das leis que não pegaram até hoje, em especial nos setores de menor investimento e maior extração da extensão de terra e suas potencialidades, ainda que subaproveitadas, no caso a agropecuária extensiva; de outro os setores progressistas de investimentos largos em produtividade como o setor de commodities agrícolas. Destes o melhor posicionado para médio e longo prazos é o da soja, mas reconhecemos o reposicionamento do café ( a mecanização de colheita salvou o café do Brasil) e mais recentemente novos investimentos no algodão.

E o viés político? Sempre fortemente influenciado pelo ideológico, ao menos na nossa pátria mãe gentil.

Está em acordos partidários frágeis tecnicamente, mas fortes fisiologicamente. Expressão da leniência com que são tratadas as infrações de movimentos como MST e assemelhados. Um foco quase religioso, no que seria o panteísmo da visão radical dos ambientalistas, que defendem a retroatividade da lei para proprietários e investidores.

Como imaginar hoje, em 2012, abrir mão de 20% da área plantada, investir a fundo perdido (no negócio) para reconstruir uma mata que já não existe há um século ou mais, e ainda encontrar rentabilidade e perpetuidade no negócio onde o mercado é commodity mundial e o cambio uma incógnita?

Como complicador significativo, a despeito das vozes bem intencionadas e bem abalizadas que estão tentando manter o nível de bom senso, ainda temos uma confusa mistura de argumentações e estatísticas no setor, que confundem a agricultura familiar – de inserção social e de suporte na alimentação de subsistência da sociedade – com o que é de fato um segmento de economia que tem que ser entendido em escala de produção e custos, rentabilidade sustentada por ser commodity, em melhoramento contínuo de técnica e inovação e numa estabilidade mínima de volumes e logística ( infra-estrutura ) em escala de mercado global.

Este conjunto de vieses acima determina a atual insegurança jurídica que paira sobre o agronegócio e sua sustentabilidade para um futuro mais que promissor e que sempre pontua o Brasil como celeiro do mundo.

A área plantada no Brasil nos últimos anos tem crescido no máximo de 2 a 3 %. Porém  a produtividade agrícola tem crescido acima de 10% ao ano na média. Como manter isso com tamanha insegurança jurídica?

A balança comercial brasileira, em tempos bicudos para a indústria de transformação, tem no setor agrícola o maior gerador de superávit recente e para os próximos 10 anos. Qualquer instabilidade no seguimento desta tendência desorganiza e arrisca a nossa estabilidade de inflação, de cambio, de crescimento econômico e distribuição de renda.

Com todos estes importantes atributos, porque sofrer com ameaças que são totalmente dispensáveis, dado que estão no âmbito do arbítrio do país? Já não bastam as ameaças permanentes do ambiente externo, suas incertezas e o permanente jogo de poder e de sustentação de produção e de mercados que cada nação tem que enfrentar?

Parte do desequilíbrio nos vieses citados, que afetam a sustentabilidade do planeta e das nações, está justamente na oposição de interesses de curto, médio e longo prazo nas agendas ocultas de cada nação representada nos fóruns de debates mundiais. È evidente que ações de curto e médio prazos são poucas e alguma identidade de objetivos e propósitos de longo prazo representam uma esperança.

Este processo se estende depois em ações de ONGs e outras instituições, muitas delas inegavelmente bem intencionadas, mas que efetivamente têm forte influência sobre decisões políticas, legislativas, que também deveriam buscar o equilíbrio e formar o tripé da sustentabilidade no plano privado, no plano de estado, no plano da sociedade,  garantidos por uma democracia e uma construção de valor que criasse de fato uma prosperidade compartilhada, apartidária, com prioridade expandida primeiro para o Brasil, mas também para o mundo .

E O MERCADO DE EQUIPAMENTOS AGRÍCOLAS?

 Depois de quase 4 anos de convivência com este mercado arrisco uma avaliação que me parece realista no longo prazo e talvez otimista no curto e médio prazos.

A nova lei florestal pode minimizar as barreiras para um crescimento mais robusto da área plantada no Brasil alem do que foi observado.

Também a nova lei florestal pode minimizar os investimentos de curto prazo e a fundo perdido, ao menos para o investidor do agronegócio, e, portanto balancear os esforços de investimentos de capital para tanto a preservação ou recuperação de áreas de um lado, como também de melhoria de produtividade e de custo na produção pelos investimentos em mecanização e automação em curso.

O apelo pela sustentabilidade passa pela produção em escala crescente de alimentos para a humanidade, em especial a tendência crescente de consumo maior nos países emergentes e suas novas classes médias.

O Brasil tem seu potencial de crescimento do agronegócio, seja na continuidade da melhor produtividade e custos no campo quanto na expansão de área plantada, seja na fronteira ou na migração do pasto para o plantio de grãos e outras commodities.

Haverá uma continuidade de investimentos estrangeiros nas diversas vertentes de oportunidades do agronegócio.

Haverá também a necessidade de alguma consolidação de mercado nos setores diversos, mas com ênfase na área de equipamentos e implementos agrícolas. A indústria brasileira precisa focar seus diferenciais reais de valor, seja na inovação ou na performance de seus equipamentos e implementos, seja na capacidade de enfrentar as demandas de capital de giro e de investimentos e na melhoria da linha de produtos. O Brasil se tornou parte irreversível do mercado global de equipamentos e insumos.

Os 3 maiores grupos de produção de equipamentos do mundo estão consolidando e solidificando seu posicionamento no mercado brasileiro e, a partir dele,  na América do Sul e talvez na África . Investimentos entre RS , SP e GO superam bilhões de reais nos últimos 2 anos e nos próximos 2 a 3 anos. A maior parte desses novos “starts ups” está prevista para 2012 ou 2013. Alguns “players” são grandes o suficiente para terem banco próprio, como a indústria automobilística. Falamos de crescimento de produção possível na

ordem de 7 a 10% ao ano , cifras chinesas em um Brasil que deve ficar nos 4% ao ano de crescimento do PIB.

Os investimentos em tecnologia no foco da automação e melhoria de produtividade na chamada de agricultura de precisão são expressivos e a cada Agrishow surge uma série nova de lançamentos atrativos.

As linhas de financiamento para novas safras e para mais capacidade de mecanização são crescentes e incontestáveis, tanto quanto as novas modalidades de fomento.

Portanto há um cenário de crescimento de negócios, endurecimento da competitividade, clientes em transformação (dado que na produção de escala não temos mais a figura folclórica do agricultor, mas empresários e executivos altamente preparados para decisões de negócios em busca de resultados crescentes) em cenário mundial favorável e com tendência altamente atrativa para próximos 10 anos. É um cenário bom e fora da curva do contexto mundial atual, mas nem por isso inverossímil.

Os pequenos e médios agricultores seguirão a tendência de melhor visão de qualidade e produtividade, seja em nichos de produtos especiais ou em agricultura de subsistência mais sofisticada.

O mercado de grãos, energia e produtos em escala mundial serão mercados pujantes e grandes oportunidades para verdadeiras propostas de valor e de relacionamentos significativos e duradouros. Os produtos agrícolas deste segmento já são chamados de commodities e tratados como commodities.  Boa parte dos insumos idem.

Equipamentos e implementos devem preservar a oferta de valor na cadeia para evitar que a diferenciação se resuma no poder do capital investido na especulação dos estoques. As cadeias de valor no agronegócio têm se consolidado, em alguns segmentos, como oligopólios e o setor de equipamentos é uma das poucas exceções deste fenômeno.

Quem sabe assim, ainda nesta década, possamos ver também a fome e desnutrição anacrônica que aflige a milhões de seres humanos serem banidas, graças a este crescimento de demanda aliado a ganhos de produtividade e à redução de desperdícios e perdas inaceitáveis para o século XXI.

Referências :

 

  • O fortalecimento da segurança alimentar e ambiental na concepção do novo Código Florestal – Eduardo Pires Castanho (IEA)
  • Imenso fardo para Senadores – José Eli da Veiga para O Valor Econômico, em 20.09.2011
  • Cartilha do Código Florestal – SOS Florestas
  • Entenda o problema do código Florestal – Blogspot Ciro Siqueira.

 

Texto originalmente publicado na Revista de Marketing Industrial No 55 em 2012 que relendo me parece ainda muito atual até porque a Lei Florestal, em sua aplicação,  caminha ainda a passos de tartaruga.

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Liderança e o desafio da Credibilidade e Confiança .

Comecei este artigo há uns 15 dias e coincidentemente ao estar revendo e finalizando o mesmo, eis que me deparo com preocupações semelhantes em vários pontos de nossa sociedade.

Em inglês uma posição muito forte para qualquer formação de cultura, gerenciamento de pessoas pelo exemplo, entre outros me remete a frase “Walk the talk !”

No nosso Brasil tropical sempre usamos ditados e provérbios, digamos enviesados. Certamente este viés é forte e preponderante em formar nossa cultura como sociedade e, portanto em nossas instituições , seja de governo de nação , estado ou município,  mas certamente no âmbito de núcleos sociais como comunidades de toda natureza , inclusive as religiosas , eclesiásticas ! “ Faça o que eu falo mas não faça o que eu faço !”  Lembram ?

Sempre me lembro nestas horas de importantes ensinamentos de nossa amiga Ethel B. Medeiros

Quando dizia que consistência é a coerência prolongada! Oras o que é coerência senão ações que comprovem e confirmem afirmações e posições tomadas? Consistência é Walk the Talk!!!

Se falamos de Gerenciamento pelo Exemplo , estamos falando do “ Walk the talk “!

Pois bem, não bastasse isso encontro em recente artigo de Alberto Carlos Almeida  ( Jornal O Valor ) uma colocação que me provocou , digamos , uma indignação com o status quo! (a discussão era da situação política do Brasil e fazia uma comparação entre condições e posição de Nixon nos anos 70 nos USA e Dilma nos anos 20XX no Brasil! ) : “Credibilidade, assim como confiança, é um ativo que cresce à medida que é utilizado!”  E diz ainda , em contexto de discussão política: “ Como Nixon nos ensina,  credibilidade não usada é credibilidade perdida !”

Diz o texto de Alberto Carlos Almeida:

“Na realidade o problema começa quando a população não entende os porquês da dificuldade ( dificuldades do ano 2015 !) , e acima de tudo , quando não vê o governo se empenhando para que as coisas mudem para melhor .”  e em seguida coloca o exemplo do pai que ficou desempregado e pede para a família reduzir gastos e temporariamente corta o curso de inglês dos filhos , mas que vai a luta , faz o Curriculum e diariamente mostra o empenho em buscar nova oportunidade de trabalho . Vai conseguir, mas o exemplo dado foi coerente com a solicitação de cortes de gastos e até investimentos da família. Todos vão apoiá-lo e dar-lhe suporte.

Para complicar um pouco mais nossas elaborações lembro que relacionamento é algo que acontece quando existe Comunicação e Confiança!  Confiança é derivada direta de credibilidade. Portanto relacionamento também é resultado da combinação positiva de comunicação e credibilidade. Este tema foi um trabalho de Jean Bartoli com ingredientes de Anna Arendt e que no final apela a possibilidade do perdão para o resgate do relacionamento quando confiança ( e credibilidade ) e comunicação falham por nossas fragilidades humanas.

O que acontece hoje no Brasil é isso tudo que acabo de dizer acima. Mas o foco desta reflexão não é só para o Brasil que sempre ocupa posição preponderante em nossas  preocupações , como se o Brasil fosse algo que , além e fora de nossa controle pessoal , interfere e influencia definitivamente nossas vidas ! (e em parte é isso mesmo que acontece!).

Mas veja por outro lado, desde os anos 80 passei  a observar e verificar que nossa economia formal e privada, nossa sociedade enquanto não pasteurizada e controlada por alguma força ideológica de qualquer vertente, sempre foi mais forte, superou e sobreviveu a todos os descasos e desmandos dos contextos vigentes. Desde a proclamação da república, mas de forma consistente, crescente e permanente cada vez mais firme, na passagem da ditadura Vargas, governos claudicantes, ditadura Militar e agora a pseudo-ditadura de esquerda, quase bolivariana que vivemos e nela imergimos.

Para fechar a reflexão meu desafio é de justamente colocar neste contexto amargo e temporariamente depressivo (até na economia!) e colocar em questão: Onde está a credibilidade de nossos líderes empresariais? Onde está o walk the talk destes líderes de empresas que comandam a economia real, que é a única que pode gerar riqueza para ser dividida na sociedade? Onde estão os líderes empresariais que se encastelam em associações e grupos, mas que nos momentos mais críticos ou se omitem ou esperam benesses de governos em decisões questionáveis de desonerações protegidas?

Em excelente artigo recente, Luiz Bersou coloca a necessidade de um pacto social para enfrentamento da crise atual por que passamos tanto política, quanto econômica.

Assim colocou Luiz Bersou na conclusão de seu artigo:

Questão fundamental que não está sendo percebida. Momentos de crise são também momentos de grandes ganhos ou perdas em credibilidade. Credibilidade é a mola de mobilização social. Fala-se em diálogos. Estão soltos por aí.

Diálogos soltos não levam a nada. A base para a capacidade de mobilização precisa ser o Pacto Social que traga para os líderes a condição de construir em conjunto.

Nesse momento em que o governo se mobiliza para salvar a si próprio, não quer cortar na própria carne, está abrindo mão de Pactos Sociais que não o interessam. Precisamos então de líderes empresariais e homens públicos que exijam a elaboração de Pactos Sociais que interessam principalmente à nação e que vão acabar salvando o governo que sobrar.”

Pois bem, lendo e relendo jornais e revistas recentes, consultando colegas que trabalham em Associações de classe empresarial vejo com preocupação que nosso empresariado em geral não só está na defensiva em relação a investimentos como também, como quase sempre nos últimos 30 anos, em posição não de protagonistas de propostas de Pactos Sociais como acima, de fazer acontecer como costumam cobrar de seus gerentes e diretores na empresa. Ao invés disso, estão  como sempre assistindo as coisas acontecerem e esperando que aconteçam como eles desejam . Poucos são exceção, e até estes tem estado em estado de observação.

Acredito que o problema do Brasil, das empresas, das associações e comunidades é anacrônico e sem solução de curto prazo. Precisamos de bons líderes e eles estão em falta!!

Marcos C Ribeiro

 
 

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Dos riscos de apagões e racionamento de energia – Desta vez não esvaziaram Furnas.

Tudo começou com uma troca de e-mails sobre a falácia da produção de petróleo do Pré Sal da Petrobrás do PT ! O interessante é que só falamos da fonte de energia dos chamados combustíveis fósseis .

Mas veio a pergunta de um primo querido que também é atuante nas questões ambientais :

Será que não deveremos partir mesmo para a bioenergia (cana, babaçu, etc…), além da eólica e solar?

Ou teremos de encarar a energia nuclear …

Respondi rapidamente mas acredito que é uma leitura realista do contexto e do cenário da geração de energia elétrica no Brasil de hoje e do Futuro . Logo depois disso li a ultima página da ultima edição de Exame e li o que o Professor Goldemberg falou na entrevista : ” Na prática já vivemos um racionamento !!”

Resposta para sua eventual curiosidade :

Nosso problema me parece ser outro , mas seguem alguns dados importantes :

 

Eólica no Brasil tem potencial limitado pois depende de ventos contínuos para ser eficiente e ter custo benefício compatível. Mesmo assim nossa maior instalação no CE está sem produzir porque a CHESF não construiu as linhas de transmissão . São vários M Watts disponíveis e inúteis.

 

Bio Energia já é realidade onde existe a possibilidade , assim mesmo as políticas de intervenção do governo mantem o etano com baixa rentabilidade para teoricamente conter a inflação ( falácia) e para manter refinarias da Petrobrás ativas , mas o tiro saiu pela culatra com o aumento de consumo e necessidades de importação , e agora com o cambio ainda apreciado mas mais realista ! Petrobrás via se esvaindo aos poucos.

 

Solar tem soluções mais interessantes para pequenos consumos. As células solares e geração de energia em pequenas porções em breve poderá ser útil para uso residencial e até fornecer excedente para as distribuidoras mas precisa que Aneel e legislação acompanhem as possibilidades o que não me parece ser boa expectativa pois as” Anateis a Aneeis” também estão aparelhadas pelo partido dominante do poder atualmente ..

 

Energia nuclear limpa é viável e realidade em todo o hemisfério norte ocidental mas depende de investimentos grandes e de infraestrutura , o que não tem sido o forte da nossa linha política de governo atual. Não tenho muitas esperanças de solução nesta linha nem nos próximos 10 anos !

 

Hidroelétricas no N do Pais estarão entrando no sistema com atraso mas vão segurar a barra por algum tempo. Mas sem linhas de distribuição e inteligência de distribuição dos excedentes vai haver racionamento e apagões …

Neste ínterim as termoelétricas a gás ou mesmo a óleo combustível podem ajudar e muito . No apagão do FHC ( provocado com o esvaziamento de Furnas de propósito… aliás !) foram viabilizadas mais de 40 termoelétricas mas acredito que só a metade saiu do papel . São investimentos unitários menores e de fácil localização regionalizada. O custo é maior do que a energia hidro mas é mais baixo do que todas as outras.

 

Pegar de volta Os G Watts que fornecemos para AR seria um problema e continuar a pagar mais caro para as sobras dos Paraguaios de Itaipu já é parte da solução insuficiente de hoje.

 

Crescer a mais de 4% ao ano no PIB ter em breve um novo contingente de classe média comprando aparelhos de AC para suas casas é caos no suprimento antes que qualquer solução bem planejada possa ser implementada . Como Planejamento não existe no Brasil há mais de 12 anos podemos saber o que nos espera.

Boa sorte para todos nós !

 

 

 
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Publicado por em 17/02/2014 em Contexto, Economia

 

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Devemos encarar a dicotomia entre crença e ceticismo como dilema ?

A discussão acima foi motivada e provocada em um grupo de discussões filosóficas na Web. Uma experiência até aqui muito legal !

Resolvi compartilhar no blog uma contribuição que deixei no grupo ainda que o assunto nunca se esgote mas como diria meu amigo Jean Bartoli , estamos filosofando !

Segue :

Crença = algo em que acreditamos por fé religiosa ou por convicção íntima.
Crer está diretamente ligado ao ato de dar crétido ou acreditar. Tem um aval com ou sem reserva . Com ou sem penhora .
Não “creio” que há uma semelhança ou correlação garantida entre crer e conhecer.
Conhecer , ter o conhecimento implica em ter informações multimidia ou muito sensoriais processadas e resignificadas para se tornarem o conhecimento e este é dinâmico portanto , ainda que sobre paradigmas mutáveis , muda a cada momento que por efeito de algum compartilhar deste resignificamos mais uma vez. Daí o Dogma é um perigo pois congela ou cristaliza um paradigma e portanto pode se tornar em crença dado que não mais sustentado pelo conhecimento.
A fé começa onde a razão termina ( kierkgaard)

Mas a fé tem uma belíssima definição cuja origem vem do conhecimento judaíco cristão e está na epístola aos Hebreus cap 11 e verso 1 : A fé é a certeza das coisas que se esperam , a convicção das coisas que se não vêem. ( note a ausencia de uma percepção sensorial humana : não ver ! )
Portanto de forma mais laica poderíamos lembrar que a crença é algo que se torna uma verdade , uma convicção , uma ética , quando nos grupos sociais a partir de valores dizemos que nossa crença é de que o homem é bom por natureza, por exemplo .Nossa crença é de que o ser humano é importante para o desenvolvimento da organização , etc e tal.
Não é só o acreditar porque adquiri ou me aproriei de uma informação ou conhecimento , como de certa forma seria a própria forma racionalista e humanista . está provado cientificamente ? estão acredito. E para estar provado cientificamente tem que estar suportado por experimentos repetidos com o mesmo resultado e com base estatística mínimamente suficiente ? Daí o ceticismo encontra campo justamente nos conhecimentos que se desenvolvem a partir de observações e estudos empíricos .
Por isso de um lado aminetalistas catastrofistas pregando o aquecimento global a partir de ação direta do homem economico e de outro os céticos que não encontram comprovação científica suficiente.
Crente deveria ter como antonimo o não crente . No ambito religioso talvez o ateu ( ainda que ateísmo seja uma crença !!!)
O crédulo ou que acredita fácil , sem malícia é o sentido de antonimo para o cético . Porque o ceticismo como atitude ou maneira de ver as coisas no fundo não aceita que em algum tema ou algum momento o ser humano seja capaz de chegar ao conhecimento total e absoluto sobre o que quer que seja.
Sou crente ou convicto em uma enorme quantidade de coisas que conheço e experimento e sou cético sobre tantas outras que não recomendo a ninguem ser ou um ou outro !!
Quanto ao conhecimento : fujam do conhecimento convencional ( no sentido de Adam Smith em A riqueza das nações).
Abraços
Marcos

 
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Publicado por em 21/02/2013 em Filosofia, Geral

 

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